domingo, 1 de janeiro de 2017

As Baratas 
@lupinoinexistente 
Florestas são devastadas 
As baratas andam e continuam a andar 
Cogumelos crescem nos céus 
As baratas andam e continuam a andar 

Cores rubras se espalham nos campos de guerra 
As baratas andam e continuam a andar 
A humanidade se joga cada vez mais ao fim 
As baratas andam e continuam a andar 



segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Transe de Inverno 
@lupinoinexistente 
O inverno congelava os pequenos morados da vila, mas ela nada fazia. Benjamin Ferdinan já estava se aprontando para dormir quando bateram a sua porta. Um homem tão magro quanto alto, de paletó e chapéu cuco pretos se prostrou a sua frente, estendeu a mão e disse: “Está na hora”. Ferdinan atônito ao que ocorria, quase que por hipnotismo do sujeito, segurou a palma do estranho e, juntos, adentraram na fria e gélida noite de inverno. 
Andaram por horas com os pés cada vez mais profundos na espessa neve que encontrava na sola de seus sapatos conforto. Essa longa caminhada só findou quando o homem do chapéu cuco parou na frente de uma sombria cabana de madeira no meio do nada. Benjamin, já exausto e desperto de um pseudo transe, começou a gritar indagando ao homem o porquê de tudo aquilo. Com tanto esforço Ferdinan desmaiou. 
Ao acordar se viu em uma cama quente e um estarrecedor cheiro achocolatado de biscoitos no ar, o estranho sujeito estava sentado de uma maneira peculiar em uma velha poltrona a sua frente. De súbito, abriu-se um enorme sorriso de orelha a orelha no homem de paletó e, como num bater de asas de um beija-flor, a cabeça de Benjamin rolou pelo assoalho da edificação. Agora sem vida e longe de seus pequenos companheiros da vila, seu corpo residia naquela estranha casa onde um peculiar ser sorria.



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Alfa & Ômega
       @lupinoinexistente
Ano passado, um belo rapaz se tornou meu vizinho. Tinha olhos claros, cabelo ondulado, uma boca carnuda avermelhada e uma pele tão negra quanto uma noite sem luar.
Saía toda noite e voltava no alvorecer da manhã. Estava sempre cansado, acabado. Durante todo o dia, dormia, comia alguma coisa e adormecia novamente. Sua beleza maravilhava-me, seu cheiro desorientava-me. A cada dia que passava eu era elucidado de um completo e intenso amor por ele.
Assim passavam as semanas. Ele ficava na rua à noite e de dia em casa. Por outro lado, eu observava-o em sua magnificência natural. Os sentimentos afloravam em mim. A paixão, a dor que desatinava sem doer. Tudo crescendo ao mesmo tempo que me confundia.
Ficava me remoendo em meu quarto com medo de falar-lhe meus pensamentos, meu amor. Essa angustia crescia cada vez mais dentro de mim, me corroía, me consumia aos poucos. Parecia um tumor, ora benigno ora maligno.
Até o momento em que, vendo-o na porta de sua residência, criei coragem e fui lhe falar dos meus sentimentos. Mas, ao me aproximar, o vi numa demonstração de extremo afeto, com até beijos, a uma outra pessoa.
Com isso, chorando aos prantos, saí correndo daquele lugar. Entrei em casa como um foguete, cambaleando e batendo a porta atrás de mim com tanta força que o barulho ressoou por toda a habitação. Subi as escadas, entrei em meu quarto e me joguei na cama abismal junto com as minhas aflições.
Papai, mamãe, me desculpem. Eu amo muito vocês, mas não dá para aguentar mais nem um minuto. Adeus, meus queridos pais. Irei embora agora e descansarei na eternidade.

-Seu filho