Alfa & Ômega
@lupinoinexistente
Ano passado, um belo rapaz se tornou meu vizinho.
Tinha olhos claros, cabelo ondulado, uma boca carnuda avermelhada e uma pele
tão negra quanto uma noite sem luar.
Saía toda noite e voltava no alvorecer da manhã.
Estava sempre cansado, acabado. Durante todo o dia, dormia, comia alguma coisa
e adormecia novamente. Sua beleza maravilhava-me, seu cheiro desorientava-me. A
cada dia que passava eu era elucidado de um completo e intenso amor por ele.
Assim passavam as semanas. Ele ficava na rua à noite
e de dia em casa. Por outro lado, eu observava-o em sua magnificência natural.
Os sentimentos afloravam em mim. A paixão, a dor que desatinava sem doer. Tudo
crescendo ao mesmo tempo que me confundia.
Ficava me remoendo em meu quarto com medo de
falar-lhe meus pensamentos, meu amor. Essa angustia crescia cada vez mais
dentro de mim, me corroía, me consumia aos poucos. Parecia um tumor, ora
benigno ora maligno.
Até o momento em que, vendo-o na porta de sua
residência, criei coragem e fui lhe falar dos meus sentimentos. Mas, ao me
aproximar, o vi numa demonstração de extremo afeto, com até beijos, a uma outra
pessoa.
Com isso, chorando aos prantos, saí correndo daquele
lugar. Entrei em casa como um foguete, cambaleando e batendo a porta atrás de
mim com tanta força que o barulho ressoou por toda a habitação. Subi as
escadas, entrei em meu quarto e me joguei na cama abismal junto com as minhas
aflições.
Papai, mamãe, me desculpem. Eu amo muito vocês, mas
não dá para aguentar mais nem um minuto. Adeus, meus queridos pais. Irei embora
agora e descansarei na eternidade.
-Seu filho